Lula evita confronto com Castro, defende “trabalho coordenado” e silencia sobre policiais mortos na megaoperação do Rio

Em sua primeira manifestação pública sobre a megaoperação policial que resultou na morte de pelo menos 119 pessoas no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotou um tom moderado e evitou confrontar diretamente o governador do estado, Cláudio Castro (PL). A nota, divulgada na noite desta quarta-feira (29), ocorre mais de 24 horas após o início da ofensiva, que se tornou a mais letal já registrada na história fluminense.

Embora tenha reconhecido a gravidade da escalada do crime organizado no país, o presidente preferiu não fazer menção aos quatro policiais mortos na operação — dois civis e dois militares —, tampouco se posicionou sobre as críticas à condução da ação por parte das forças estaduais.

“Não podemos aceitar que o crime organizado continue destruindo famílias, oprimindo moradores e espalhando drogas e violência pelas cidades. Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, declarou o presidente.

Aliado de Castro na coordenação da crise após a operação, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, também tem adotado uma linha conciliatória nos discursos, embora pressione por informações detalhadas e rigor nas investigações. A opção de Lula por um tom contido é interpretada por interlocutores no Congresso como tentativa de evitar desgaste com governadores de oposição e desviar do debate sobre eventual omissão federal nas ações de combate ao crime.

A Polícia Federal chegou a ser consultada pela inteligência da PMERJ sobre eventual participação na operação, mas recusou o convite após avaliação do planejamento, alegando que a ação não se enquadrava no escopo da atuação da corporação.

A ausência de críticas explícitas por parte do Planalto ocorre em um momento de tensão institucional, com o governo federal sendo acusado por parlamentares da oposição de omissão no enfrentamento às facções. No Congresso, deputados da base do presidente, sobretudo do PT e do PSOL, cobram responsabilização criminal e até prisão preventiva de Cláudio Castro.

A Operação Contenção, deflagrada nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, registrou um saldo de 119 mortos, segundo os dados mais recentes, incluindo quatro agentes de segurança. Também foram presos 113 suspeitos, com apreensão de mais de 90 fuzis — número que supera as médias mensais do estado e se aproxima de recordes históricos.

Castro classificou a ação como “um sucesso”, afirmando que foi um golpe contundente contra o Comando Vermelho, e reiterou que os mortos eram, em sua maioria, integrantes armados da facção.

“De vítimas, ontem, só tivemos os policiais”, declarou Castro em coletiva de imprensa.

Apesar do tom conciliador da nota, chamou a atenção o fato de Lula não mencionar os policiais mortos durante o confronto — algo que, para setores das forças de segurança, foi interpretado como desconsideração institucional. Até o momento, o presidente tampouco se pronunciou sobre homenagens ou apoio às famílias dos agentes mortos.

Integrantes da oposição reagiram ao silêncio do Planalto. O líder do PL na Câmara, deputado Zucco (RS), classificou a postura como “vergonhosa”. “Enquanto policiais arriscam a vida para proteger a população, o governo se omite, lava as mãos e sequer reconhece o sacrifício feito por eles”, disse o parlamentar em nota.

A repercussão da operação tem alimentado o embate entre o governo federal e estados comandados por líderes de direita, além de servir de combustível para a antecipação do debate sobre segurança pública nas eleições de 2026.

Nesta quinta-feira (30), governadores aliados de Castro, como Romeu Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO) e Jorginho Mello (SC), devem se reunir no Rio para demonstrar solidariedade ao colega fluminense e reforçar o discurso contra o avanço do crime organizado — e contra a proposta do governo federal de centralizar o comando das forças de segurança nos estados via PEC.

A resposta de Lula, até aqui, tem sido marcada pela moderação e pela tentativa de evitar um conflito institucional. Mas o silêncio em relação aos policiais mortos e a pressão de aliados por responsabilização penal do governador do Rio indicam que o Planalto ainda busca calibrar seu discurso diante de um tema que terá peso estratégico nas urnas.

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