Trump envia carta de apoio ao Rio de Janeiro após operação contra tráfico

Uma semana após a megaoperação policial que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, o governo de Donald Trump, pré-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, enviou uma carta oficial ao secretário de Segurança Pública do Rio, Victor dos Santos, prestando condolências pela morte dos quatro policiais envolvidos na ação e oferecendo apoio no combate ao tráfico.

O documento, assinado por James Sparks, chefe da Drug Enforcement Administration (DEA), agência norte-americana de repressão a entorpecentes, reconhece a ação das forças de segurança do Estado e manifesta solidariedade aos agentes mortos.

“É com profundo pesar que expressamos nossas mais sinceras condolências pela trágica perda dos quatro policiais que tombaram no cumprimento do dever […]. Sabemos que a missão de proteger a sociedade exige coragem, dedicação e sacrifício”, escreveu Sparks.

“Colocamo-nos à disposição para qualquer apoio que se faça necessário”, conclui a carta.

A manifestação internacional ocorre em meio à crescente repercussão da Operação Contenção, deflagrada para conter a expansão do Comando Vermelho (CV), considerada uma das maiores facções do país. A ação, no entanto, gerou forte debate sobre a letalidade policial — tema recorrente nas discussões sobre segurança pública no Brasil.

Na contramão da posição internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou o tom das críticas à operação nesta terça-feira (4). Em declaração à imprensa, classificou o episódio como uma “matança” e defendeu que a Polícia Federal investigue a legalidade da operação. Lula, que inicialmente havia adotado postura mais discreta, passou a confrontar diretamente o governo estadual do Rio.

A mudança de tom ocorre após a divulgação de pesquisa interna encomendada pela Secom, que mostrou alta aprovação da operação entre a população (72% de apoio nacional e 73% entre os cariocas), mas queda na avaliação do próprio governo federal — especialmente em temas relacionados à segurança pública. O Planalto, no entanto, aposta que a percepção da população pode mudar a médio prazo, caso venham à tona indícios de abusos ou se o crime organizado continuar atuando nas regiões afetadas.

Na esfera judicial, a operação segue sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF). O relator da ADPF 635 (ADPF das Favelas), ministro Alexandre de Moraes, recebeu o governador Cláudio Castro (PL) em audiência na segunda-feira (3), em que o chefe do Executivo fluminense reafirmou a legalidade e constitucionalidade da ação. Nesta quarta (5), Moraes realiza nova audiência, agora com entidades da sociedade civil, antes de tomar decisão sobre o caso.

O STF já havia determinado limites à letalidade policial em operações nas comunidades do Rio desde 2020, estabelecendo protocolos mais rigorosos e exigindo justificativas detalhadas para ações que envolvam confronto armado. O cumprimento dessas diretrizes está no centro da discussão atual.

Apesar das críticas e do escrutínio judicial, o governador Cláudio Castro sinalizou que novas ações policiais estão previstas. Segundo declaração divulgada por sua assessoria, ao menos dez operações semelhantes já têm autorização judicial para serem executadas nos próximos meses. Além disso, uma ofensiva diária para remoção de barricadas em comunidades da Zona Oeste e Baixada Fluminense começa ainda esta semana.

“Não acredito em ocupação, mas vamos seguir com operações pontuais e cirúrgicas para retomar os territórios dominados por facções criminosas”, afirmou o governador.

A troca de farpas entre os governos federal e estadual evidencia a crescente polarização política sobre o tema da segurança pública. Enquanto Lula evita medidas mais contundentes, alegando que segurança é papel prioritário dos estados, a oposição tem intensificado as críticas ao Planalto, cobrando ações mais firmes no combate ao crime organizado.

A carta de apoio do governo Trump insere o episódio no cenário geopolítico, especialmente no momento em que governadores brasileiros articulam com os EUA o reconhecimento de facções como organizações terroristas, com sanções internacionais e bloqueio de ativos. O governo Lula, por sua vez, resiste à iniciativa, alegando insegurança jurídica e riscos à soberania nacional.

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