Foto: Reprodução / Colossal Biosciences
A Colossal Biosciences, uma startup americana especializada em biotecnologia, anunciou em 7 de abril de 2025 o nascimento de três filhotes de lobo com características genéticas do lobo-terrível, espécie extinta há milhares de anos. Batizados de Romulus, Remus e Khaleesi, os animais foram criados a partir de edição genética do lobo-cinzento, utilizando a tecnologia CRISPR Cas-9. A empresa afirmou que essas modificações genéticas resultam em animais com traços do lobo-terrível, embora nenhum DNA antigo tenha sido inserido no genoma do lobo-cinzento.
A revelação da Colossal Biosciences despertou entusiasmo, mas também levantou muitas dúvidas na comunidade científica. Para o geneticista Jeremy Austin, diretor do Centro Australiano de DNA Antigo, o que a empresa realmente criou foi um lobo-cinzento geneticamente modificado que apenas se assemelha à imagem idealizada de um lobo-terrível.
Beth Shapiro, bióloga evolucionista e membro da equipe da Colossal, argumentou que a definição de espécie é, em grande parte, subjetiva. Em conversa com o New Scientist, ela afirmou que diferentes interpretações sobre o que caracteriza uma espécie podem coexistir e todas podem estar corretas. Para ela, se o animal se parece, se comporta e desempenha o mesmo papel ecológico da espécie extinta, isso seria o bastante.
Jeremy Austin, no entanto, não se convenceu. Ele comparou o discurso da empresa à fábula “As Roupas Novas do Imperador”, sugerindo que a Colossal está vendendo a ilusão de um lobo-terrível, quando na prática entregou apenas um lobo branco e cinza. “Não vejo isso como um caso real de desextinção”, afirmou.
Outro crítico é Adam Boyko, geneticista da Universidade Cornell, em Nova York. Em entrevista ao The New York Times, ele destacou que os filhotes não foram criados em ambientes que simulem os comportamentos ou a dieta dos antigos lobos-terríveis, o que compromete a preservação de aspectos culturais e biológicos essenciais da espécie original.
De acordo com Adam Boyko, os filhotes carregam apenas cerca de 20 genes associados ao lobo-terrível, um número que, segundo ele, está longe de ser suficiente para afirmar que a espécie foi “ressuscitada”. “Talvez sejam necessários dois mil genes para chegarmos perto disso”, alertou o geneticista, ressaltando que o impacto genético real da modificação ainda é incerto.
A própria Colossal admitiu, em entrevista ao Science Alert, que não está recriando uma cópia fiel do lobo-terrível, mas sim desenvolvendo uma versão moderna inspirada na espécie extinta.
Jeremy Austin reforçou esse ponto, argumentando que seriam necessárias dezenas, talvez centenas de milhares de alterações genéticas para se aproximar de uma recriação precisa. “Afirmar que temos um lobo-terrível só porque ele é branco é ignorar décadas de conhecimento sobre genética e evolução”, criticou. Para ele, sem o devido rigor científico, a proposta de desextinção da Colossal se aproxima mais de uma estratégia de marketing do que de um avanço científico real.

Foto: Reprodução / Colossal Biosciences
A Colossal anuncia que seus geneticistas também estão empenhados em “desextinguir” outras espécies emblemáticas, como o mamute-lanoso (popularizado na animação A Era do Gelo), o pássaro dodô (conhecido por sua aparição em Alice no País das Maravilhas) e o tigre-da-tasmânia (parente do diabo-da-tasmânia, imortalizado pelo personagem Taz, dos Looney Tunes) todos igualmente celebrados na cultura pop, assim como o lobo-terrível.
Fonte: Olhar Digital