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O uso excessivo de celular pode causar problemas de saúde nos idosos

Dobrila Vignjevic / Getty Images

Foto: Dobrila Vignjevic / Getty Images

O uso excessivo de celulares não é apenas uma preocupação entre crianças e adolescentes, mas também afeta uma parcela significativa da população que muitas vezes passa despercebida: os idosos. Com a crescente adesão a tecnologias móveis, essa faixa etária também está exposta a riscos relacionados ao tempo prolongado diante da tela, incluindo impactos na saúde mental, dificuldades de sono e isolamento social.

O uso de dispositivos digitais pode trazer benefícios significativos para as pessoas na terceira idade, como facilitar a comunicação com familiares e amigos, fornecer acesso a informações e estimular o desenvolvimento cognitivo. No entanto, o excesso de uso pode levar a consequências negativas, como a redução das interações presenciais, o sedentarismo e o vício digital. Segundo Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, o design dos aplicativos é um fator crucial para o tempo prolongado de utilização. “Eles são projetados para estimular gatilhos no cérebro, liberar dopamina e criar a sensação de recompensa, o que estende o tempo de consumo”, afirma ele, citando estudos que demonstram a importância dos detalhes como botões, cores e testes de design no uso prolongado dos aplicativos.

A funcionária pública Gerusa Freire, de 69 anos, é uma exemplo de como a paixão por jogos de smartphone pode ser uma constante na vida de adultos. Ela admite que gosta de jogar paciência, baralho e dominó, e aproveita o tempo de viagem para jogar no caminho ao trabalho. Com um trajeto que dura cerca de uma hora, ela dedica pelo menos duas horas por dia a jogar. Embora ela aprecie o entretenimento oferecido pelos jogos, também reconhece os riscos de distração que eles podem causar. “Muitas vezes, as pessoas se perdem no mundo virtual e se esquecem do ambiente ao redor”, alerta Gerusa, que se preocupa com a segurança dos passageiros nos ônibus.

O aposentado Valmir Ferreira, 66, mora em Santa Maria e destaca a necessidade de estar sempre conectado, especialmente para realizar transações financeiras e acompanhar notícias. “É fundamental estar atualizado sobre o que acontece no mundo. Se não acompanharmos as informações, corremos o risco de se tornar vulneráveis e desinformados, o que é o pior cenário”, afirma. Para ele, o segredo está no equilíbrio: “É preciso estabelecer regras para não cair na armadilha de passar o dia inteiro no celular, perdendo a conexão com o mundo físico.”

Jogo da memória: o preço do excesso de dependência digital

O uso excessivo de celulares pode ter consequências negativas, especialmente na memória e na concentração das pessoas mais idosas. De acordo com Priscilla Mussi, coordenadora de Geriatria do Hospital Santa Lúcia, a dependência do celular pode afetar a capacidade de armazenar informações e de se concentrar, tornando as pessoas mais suscetíveis à distração e à dependência digital.

“Quando as informações são consumidas de maneira superficial e sem conexões emocionais, elas são esquecidas rapidamente”, explica Mussi. Essa é a experiência de Maria dos Santos, 73 anos, que mora em São Sebastião. Ela teve um episódio marcante que a fez repensar seu uso do celular. “Uma vez fiquei tão entretida que não vi a panela queimar a comida. Desde então, aprendi a não me viciar no aparelho”, diz.

Embora Maria não se considere uma usuária intensa, admite que confere o celular em vários momentos do dia. “Fico no máximo 1 hora, mas meu aparelho está sempre por perto”, afirma. O exemplo de Maria serve como um lembrete da importância de usar os celulares de forma responsável e de não se deixar viciar pela dependência digital.

Pessoas que vivem sozinhas ou têm pouca rede de apoio social estão mais propensas a desenvolver o hábito de usar dispositivos eletrônicos excessivamente na terceira idade. Esse comportamento afeta diretamente a qualidade do sono e a capacidade de socializar. De acordo com especialistas, é recomendável evitar a exposição a luz azul emitida por telas pelo menos duas horas antes de dormir, para que a melatonina atinja seu pico e garantir um sono adequado. No entanto, muitos idosos passam a noite assistindo televisão ou usando o celular, especialmente devido ao aumento do sentimento de solidão nesse momento.

Atenção ao uso excessivo de dispositivos digitais!

Segundo especialistas, a superutilização de smartphones e outros dispositivos pode ter consequências negativas para a saúde física e mental. “Dores musculares e articulares são comuns em pessoas que seguram o aparelho por longos períodos em posições inadequadas”, afirma Mussi. Além disso, a exposição prolongada a telas pode levar a uma piora cognitiva e aumentar a ansiedade, especialmente quando o smartphone se torna a principal fonte de informação.

O consumo de notícias falsas e golpes digitais também é um problema grave, especialmente entre idosos que não têm experiência prévia com a tecnologia. “Eles podem ser mais vulneráveis às armadilhas da internet e das redes sociais”, alerta Igreja. Para mitigar esses riscos, é fundamental aumentar a familiaridade desse público com a tecnologia.

Para reduzir a dependência digital, Mussi recomenda algumas estratégias simples: manter o celular longe em momentos de socialização, ativar o modo “hora de dormir” do aparelho e identificar os gatilhos que levam ao uso excessivo. Em casos mais graves, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e, se necessário, a administração de medicação podem ajudar a controlar a compulsão digital. “Pequenas mudanças de hábito podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida”, conclui.

A Igreja destaca que a convivência familiar tem um impacto significativo na formação de hábitos de uso de tecnologia. “Quando estamos mais próximos da família, conversamos sobre os nossos hábitos e comportamentos. Muitas pessoas não percebem, mas todos estamos desenvolvendo vício em dispositivos eletrônicos e uma forma de hiperconectividade”, afirma.

Para reduzir o tempo de tela sem causar isolamento, Nobréga sugere uma abordagem multifacetada. Isso inclui a gestão pessoal, como estabelecer pausas para outras atividades, e soluções coletivas, como participar de centros de convivência, trabalhos comunitários ou o retorno ao mercado de trabalho. “Os idosos devem se sentir orgulhosos de aproveitar esses serviços e aproveitar as oportunidades de manter-se ativo e conectado ao mundo real”, conclui.

Fonte: Correio Braziliense

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